Anuário Agrologístico revela desafios e oportunidades para o agro brasileiro
O lançamento do primeiro Anuário Agrologístico pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) traz à tona importantes insights sobre a realidade logística e de armazenagem da produção de grãos no Brasil. Com dados consolidados de 2023, a publicação destaca os desafios enfrentados pelo setor e as oportunidades de desenvolvimento em meio a um cenário de crescimento e expansão do agronegócio nacional.
Entre os grãos, a soja continua sendo a principal commodity agrícola do país, com números impressionantes de produção e exportação. Segundo o Anuário Agrologístico, as exportações de soja atingiram a marca de 101,8 milhões de toneladas em 2023, representando um aumento significativo de 29,2% em relação ao ano anterior. Estados como Mato Grosso, com 28,27 milhões de toneladas, e Paraná, com 11,44%, destacaram-se como os principais exportadores, enquanto a China permaneceu como o principal destino, adquirindo 73% das exportações brasileiras de soja.
O porto de Santos-SP continuou como principal ponto de embarque de soja no ano de 2023, seguido por Paranaguá – PR. Ainda falando sobre as rotas de exportação, vale destacar a evolução notável dos portos de Itaqui-MA e Barcarena-PA nos últimos cinco anos, de 59,2% e 90,0% no volume de soja exportada, respectivamente, evidenciando a importância deles para a dinâmica de exportação do país.
O milho, por sua vez, também teve um desempenho impressionante em 2023 nas exportações, impulsionado pelo aumento na produção e pela abertura de novos mercados, especialmente a China. As exportações de milho atingiram 55,8 milhões de toneladas, um aumento de 29,2% em relação ao ano anterior. O Mato Grosso foi o principal contribuinte, respondendo por 52,15% das exportações, enquanto os portos do Arco Norte ganharam destaque, superando Paranaguá em volume exportado.
Arco Norte: a rota da expansão
O Arco Norte emergiu como uma rota estratégica para o escoamento da safra de grãos, especialmente diante das limitações enfrentadas pelos portos do Sul e Sudeste. Apesar dos desafios logísticos, como a navegabilidade das hidrovias durante períodos de seca, que fizeram perder 3,4% para os portos do Sul e Sudeste do país em 2023, os portos do Arco Norte registraram um aumento significativo na participação das exportações de soja e milho no acumulado dos últimos 5 anos. Em comparação com 2019, o Arco Norte foi o único que apresentou aumento, tanto para as exportações de soja (30,4% para 33,8%) quanto para o milho (33,4% para 42,5%).
Entre os portos desta rota, o destaque vai para Itaqui-MA, que saiu de um volume exportado (soja e milho) de 11,21 milhões de toneladas, em 2019, para 20,22 milhões, em 2023, ou seja, um incremento de 80,5%. Em segundo vem o porto de Barcarena-PA, que teve um aumento, nos últimos cinco anos, de 70,3%. Isso aconteceu em vistas do volume de investimentos nestes portos, bem como nas vias de escoamento da produção em direção a eles, como a finalização da BR-163, em direção à Miritituba-PA e de boa parte da Ferrovia Norte-Sul, que segue até Itaqui-MA.
Hidrovias em expansão
Além dos dados sobre exportações, o Anuário Agrologístico também destaca a importância dos modais de transporte na movimentação dos grãos pelo Brasil. Os modais hidroviário e rodoviário foram essenciais para esta logística, com destaque para o crescimento do modal hidroviário, ao longo da série histórica, saindo de 3,4 milhões de toneladas de soja e milho transportados em 2010 para 30 milhões de toneladas em 2023. Em termos percentuais, este modal, que representava 8% em 2010, chegou a 23% em 2022 e 19% em 2023.
Com a expansão da produção de grãos, especialmente nas regiões Centro-Oeste e Norte do país, as hidrovias têm ganhado relevância como uma opção eficiente e econômica de transporte. Essa modalidade permite o transporte de grandes volumes de carga, reduzindo os custos logísticos e contribuindo para a competitividade do agronegócio brasileiro no mercado internacional.
No entanto, apesar do potencial das hidrovias, ainda existem desafios a serem superados, como a necessidade de investimentos em infraestrutura e aprimoramento da logística de transporte. A melhoria das condições de navegação e a ampliação da capacidade dos portos fluviais são essenciais para garantir a eficiência desse modal e sua contribuição para o desenvolvimento do setor agropecuário no país.
Armazenagem: desafios e oportunidades
A capacidade estática de armazenamento de grãos no Brasil enfrenta desafios significativos diante do rápido crescimento da produção agrícola. Embora tenha havido um aumento na capacidade ao longo dos anos, especialmente na região Centro-Sul e Centro-Oeste – não por acaso, também as principais regiões produtoras de grãos na atualidade, a diferença entre a produção e a capacidade de armazenamento continua sendo uma preocupação. Em 2023, essa diferença culminou em quase 12 milhões de toneladas, destacando a necessidade de investimentos em infraestrutura para evitar gargalos no escoamento da safra.
O produtor brasileiro tem percebido essa necessidade e as vantagens de possuir armazéns próprios, o que reflete na taxa média de crescimento da capacidade em nível de fazenda (62,66%), superior à taxa total (45,46%). No entanto, ainda há muito a ser desenvolvido, tendo em vista que os armazéns na fazenda representam, apenas, 16% da capacidade estática nacional.
Em suma, o Anuário Agrologístico da Conab oferece uma visão abrangente e detalhada da logística e armazenagem da produção de grãos no Brasil. Ao analisar os dados apresentados, fica claro que o setor enfrenta desafios significativos, mas também oferece oportunidades de desenvolvimento e crescimento. Com investimentos estratégicos em infraestrutura, tecnologia e gestão, o agronegócio brasileiro está preparado para enfrentar os desafios do futuro e consolidar sua posição como um dos principais players globais no mercado de grãos.